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Superproteção pode gerar transtornos irreparáveis às crianças


Psicóloga explica que, se na idade adulta o filho não estiver preparado para as frustrações poderá até mesmo tentar suicídio ou homicídio.

Proteger os filhos não é mais que a obrigação dos pais. Entretanto, quando o cuidado se torna excessivo pode comprometer o desenvolvimento das crianças. Assim, elas tendem a crescer autoritárias com os pais e a família, além de se tornar insuportáveis com os amiguinhos e professores.

A criança ainda pode se tornar um adulto mimado, o que não seria nada agradável. Mas, afinal de contas, proteção em excesso afeta o desenvolvimento infantil? Em quais casos, a preocupação se torna negativa? A psicóloga Rosely Maria Eleutério Rodrigues, que explica os principais riscos de uma overdose de cuidados.

“Os pais devem orientar os filhos sobre os perigos do mundo e como lidar com frustrações. Não é isolando a criança em casa que ela vai aprender a se proteger. Muitos pais chegam a desautorizar o professor que colocou limite na criança, o que chega a ser prejudicial para o próprio filho, que na idade adulta não estará preparado para as frustrações e quando perder o emprego ou levar o fora do (a) namorado (a) pode até mesmo tentar suicídio ou homicídio”.

Segundo ela, a superproteção infantil pode ser caracterizada quando os pais querem escolher o próprio caminho dos filhos, não respeitando a autonomia deles. “Quando os criam isolados do mundo real e eles passam a se achar ‘reizinhos’ e se tornam arredios, tímidos e egocêntricos, quando evitam que eles tenham frustrações prevalecendo sempre a liberdade, o prazer absoluto em todas as ações e anseios”.

Perfil dos pais

O aumento da violência leva os pais a terem uma atitude radical com os filhos, podendo misturar o real com o irreal. “São pais que preferem ver o filho o dia todo dentro de casa no computador do que estar com amigos jogando ou brincando, atividades que levam a criança a se sentir mais segura, ter amigos, aprender a compartilhar, a perder e ganhar. Hoje os pais não podem ver o filho chorar, se frustrar... Por que não? As pessoas têm que aprender a lidar com as frustrações, a amadurecer. Mesmo que os pais trabalhem, devem procurar dar uma prioridade ao tempo que lhes sobra, um tempo de qualidade para passar os valores familiares, perceber o filho, olhar nos olhos dele, saber quem são os amigos, as preferências, conversar sobre a escola, a conduta dos professores”.

Personalidade

De acordo com Rosely, a criança quando se e sente asfixiada pelos pais fica insegura, submissa. “Para o bom desenvolvimento da personalidade e de caráter a criança tem que aprender a lidar com as próprias frustrações. A superproteção pode tornar um bloqueio para a aprendizagem e desenvolvimento da criança devido a lentidão do crescimento do cérebro. A criança tem que ter autonomia e liberdade para realizar as atividades lúdicas e escolares”.

A psicóloga admite que os pais de primogênitos, os mais velhos, os de filhos únicos são mais inseguros e os levam a aumentar a vigilância com os filhos, ou então, sendo permissivo demais na educação não dando os limites adequados.

Sintomas

Dentre os principais sintomas de uma criança que sofre superproteção, a profissional destaca o medo de enfrentar situações, falta de iniciativa, isolamento social, ter poucos amigos, timidez e uso excessivo de computador. “Quem apresentar esses sintomas que deve procurar ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra”.

As meninas sofrem mais com a superproteção que os meninos. Segundo Rosely, é devido à preocupação sexual que os pais têm com a filha os levam a protege-la mais. “Os pais devem permitir que os filhos brinquem de forma saudável e protegida, aprendendo a explorar o mundo e as novidades de forma responsável e com limite. Quando os pais perceberem que estão perdendo o controle da situação devem procurar a ajuda de um profissional. A Psicoterapia Familiar ajuda a família rever seus medos e angustias e se reestruturar”.

Equilíbrio

Questionada sobre qual seria a distância entre a negligência e a superproteção, a psicóloga garante que o equilíbrio é a melhor saída. “Tanto a liberdade excessiva quanto a muito restrita são prejudiciais porque levam a criança e o adolescente a fazerem uma leitura irreal da vida. Aqueles que são criados com a liberdade excessiva acham que podem fazer tudo, que estão acima das regras, dos limites e das leis. Os que são superprotegidos acham que são um rei em casa e isso se estende a escola, amizades e sociedade”.

Criança vigiada

Para Rosely, a criança deve ser vigiada 100% e tem que perceber isso sem se sentir asfixiada, senão é negligencia. “Para um bom desenvolvimento emocional da criança é necessário que ela se sinta protegida em casa e na escola de forma livre e responsável”.

A psicóloga confirma que pais superprotetores são, em geral, inseguros e ansiosos. “Mas a terapia familiar é o tratamento mais adequado para buscar o equilíbrio. Adultos controladores podem estimular comportamentos obsessivos em seus filhos, porque se tornam comportamentos aprendidos”.

Monitorando

Rosely afirma que os pais sempre devem estar em alerta tanto nas amizades quanto nos sites da internet ou canais de TV que seu filho assiste. “E devem interferir sim quanto acharem que não são adequados para a criança/ adolescente, como também os amigos que não são de boa índole devem ser proibidos de andar junto, muitas vezes, no caso dos pais estarem perdendo o controle da situação o ideal é transferir o filho de escola”.

Educação infantil

Como efeito colateral da superproteção, os especialistas em educação infantil começam a notar um aumento no número de crianças ansiosas e inseguras. Não é difícil identificar uma delas em sala de aula: é a que pede atenção e aprovação para cada tarefa que realiza. Consulta os professores com frequência quase insuportável. Fora da sala, tem medo de se machucar no parquinho (mesmo essa excrescência americana que é o playground de chão emborrachado), evita ir sozinha ao banheiro, pede ajuda a todo momento. Tamanha dependência está na raiz da baixa autoestima.

Para Rosely, a superproteção causa inadaptação social e leva a criança a ter uma baixa autoestima porque elas crescem sem a capacidade de tomar as próprias decisões e se sentem incapazes.

Uma pesquisa da Universidade de Montreal, no Canadá, publicada no início deste ano, mostra que o nível de controle dos pais pode determinar se a criança terá uma relação harmoniosa ou obsessiva com um determinado hobby ou atividade esportiva. “Se os pais forem obsessivos a criança poderá ter esse comportamento como aprendido”.

Outro estudo mostra que a falta de obrigações dentro de casa tem criado uma geração pouco preocupada com o próximo. E o pior: os pais estão relutantes como nunca em pedir ajuda doméstica aos filhos. De acordo com especialistas, não há nada de errado em distribuir tarefas: é bom para a autodisciplina e para ajudar a construir a autoconfiança. Pedir a um menino que lave um tênis sujo de barro ou que arrume a cama não deveria ser visto como punição. É simplesmente algo que ele deve fazer por ser parte de seu cotidiano.

“A criança deve ajudar em casa de acordo com a sua capacidade. Exigir demais leva ao estresse e desestimula a criança, assim como, não ajudar leva a preguiça e alienação dos deveres de casa. Os pais devem protegê-los para que não sofram nenhum acidente, como por exemplo, usar o fogão, facas ou produtos químicos”, finaliza.

Segundo pediatra, agir compulsivamente com espírito de proteger o seu filho torna a criança insegura no convívio social, e até nas atividades mais simples

https://piconzeinfantil.com.br/_arquivo/editor/image_2169.jpgColoque o casaquinho! Não tome gelado, você pode resfriar... Conselhos de mães são sempre importantes. Porém, algumas exageram. De acordo com o pediatra Rubens Akira Maekawa, a superproteção ocorre quando agimos impedindo que as crianças desenvolvam atividades ou se relacionem com outras crianças, acreditando que a estamos protegendo de algo pior.

“Quando ocorre de maneira coerente e sutil para a criança, essa superproteção pode ser benéfica impedindo que a criança adoeça ou que uma doença em curso se complique. Porém, quando isso ocorre a tal ponto de inibir o desenvolvimento neuropsicomotor da criança, ela se torna maléfica”.

Para o médico, o ato de agir compulsivamente com espírito de proteger o seu filho, quando exagerado, “pode gerar transtornos irreparáveis às crianças, transferindo dependência e tornando as crianças inseguras no convívio social, e até nas atividades mais simples como nas atividades educativas escolares e na prática esportiva”.

Segundo Rubens, engatinhar pela casa ou na terra faz parte do aprendizado das crianças, e é muito importante que elas tenham a oportunidade de realizá-las. “Nem tanto cá, nem tanto lá, bem entendido! Num dia frio ou chuvoso, vamos tomar o cuidado de mantê-los agasalhados e protegidos, porém numa tarde de tempo bom com Sol e clima ameno porque não engatinhar? Por que não brincar na terra? Por que não andar descalço pela casa, ou na areia ou na grama? Porque não entrar na piscina? Bem entendido tudo dentro de seus limites!”.

De acordo com o pediatra, a superproteção não interfere diretamente no sistema imunológico, o que acontece é que, pelo não contato com o meio ambiente, ela não desenvolve anticorpos contra os “seres” estranhos ao seu organismo.

“Neste mundo moderno estamos ficando com medo até mesmo de sair na rua à noite, o ato de agir compulsivamente tentando proteger nossos filhos está se tornando cada vez mais frequente e, com isso, essa superproteção que deveria ser benéfica, se torna um trauma para as nossas crianças. Para mudar isso precisamos mudar a nossa cabeça sermos mais ativos e confiantes e transmitir essa confiança”.

Mães jovens

Mãe jovem, às vezes, por serem mais “desligadas”, têm uma atitude menos protetora. “Aí permitem que seus filhos se desenvolvam naturalmente, por outro lado se essa mãe jovem tem ao seu lado uma família com atitudes superprotetoras ela será influenciada mais facilmente que uma mãe mais experiente, da mesma forma uma mãe mais velha, principalmente aquelas que engravidaram já com mais idade, tem uma atitude mais protetora sobre os seus filhos”.

Linha divisora

Para o médico, entre a negligência e a superproteção há uma grande distância. “Na primeira, há um descaso para com os cuidados com o bebê, ao contrário da superproteção em que há um excesso de cuidados que nem sempre são bem vindos”.

Dica

“Não há uma fórmula mágica na atenção com os filhos, o mais importante é uma boa relação médico-paciente (neste caso, médico-família) para não transformar uma atitude de proteção à criança não se transforme num trauma para mãe e criança”.

Diário de Votuporanga | Fernanda Ribeiro Ishikawa