É DE PEQUENO
QUE SE VIRA FERA.

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É preciso sensibilizar as famílias para a importância da educação infantil


Um estudo recente da Fundação Getúlio Vargas** mostrou a importância da Educação Infantil no desenvolvimento pleno dos indivíduos. É nos primeiros anos de vida que se dá a maior parte do desenvolvimento cerebral e se estrutura a capacidade de melhor aprendizagem do que está por vir ( habilidade que produz novas habilidades).


O impacto dessa constatação, antes já apontada pela psicologia de aprendizagem e pela neurociência, se estende não só pelas trajetórias individuas – quem teve acesso à formação precoce tem mais chances em sua vida futura, como também para a própria sociedade. Nesse sentido, o estudo destaca que “ investimentos que ocorrem entre os três e quatro anos de idade têm uma taxa de retorno de 17% ao ano, enquanto alguns programas de recuperação tardia apresentam retornos que são nulos e muitas vezes negativos ( custo maior do que o benefício)”. Todos nós educadores sabemos que há um paradigma forte em muitas famílias que avaliam que apenas os anos finais de formação ( Ensino Médio) merecem mais investimento. Ou seja, é forte a ideia de que é possível corrigir mais tarde as lacunas que foram sendo acumuladas ao longo da formação. Ou ainda – mais grave – que a Educação Infantil é um tempo “para brincar”, sem nenhum projeto ou estrutura programados para o desenvolvimento necessário desta faixa etária.

Concretamente, as famílias e os não especialistas em educação não têm necessariamente informação qualificada sobre a importância dessa questão.

Cabe aos educadores de escolas públicas e privadas atuarem fortemente junto às comunidades, desmistificando o equívoco da melhor formação tardia e esclarecendo a importância da Educação Infantil e do desenvolvimento cognitivo das crianças.

Além desta ampla campanha de esclarecimento ( feita através de reuniões de pais e divulgação através dos meios mais eficazes em cada localidade), as escolas precisam se organizar de modo a traduzir em ações concretas esta importância. Relatórios da presença da criança e registros de desenvolvimento ao logo de sua permanência na Educação Infantil, devolutivas claras e didáticas aos pais a respeito do que é observado e, principalmente, das finalidades de cada atividade desenvolvida ( relacionadas ao desenvolvimento sensório – motor, cognitivo e de socialização) vão, certamente, alterar o caldo de cultura que valoriza mais a formação das crianças e adolescentes nos anos finais de escolaridade.

As autoridades federais tem avançado neste aspecto. Lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente em abril de 2013, que passou a vigorar em 2014, estabelece, entre outras questões, que “é dever dos pais ou responsáveis efetuar as matrículas das crianças na educação básica a partir dos 4 anos de idade” sob pena de responsabilização dos pais. Já as escolas precisam assegurar uma carga horária mínima anual de 800 horas, distribuída por um mínimo de 200 dias de trabalho educacional, e providenciar um controle de frequência, exigida a frequência mínima de 60% ( sessenta por cento) do total de horas. Ou seja, definitivamente a Educação infantil passa a ser normatizada como etapa regular da formação básica e não como uma atividade aleatória, mais ligada à brincadeira e aos cuidados pessoais.

Fazer esta letra da lei ser incorporada como um valor pelas famílias pode mudar o futuro de milhões, e do país como um todo, para melhor! Todos os profissionais ligados à educação tem que assumir seu papel neste processo.

*Tania Fontolan é historiadora, antropóloga, especialista em administração escolar e diretora geral do Sistema Anglo de Ensino.

**Disponível em HTTP://epge.fgv/conferencias/ece2011/files/Aprendizagem-Infantil.pdf

Por Tania Fontolan (artigo publicado em 19/03/2014 no Jornal O Globo)