A ampliação do Ensino Fundamental para nove anos expressa as contradições que constituem a política educacional brasileira. O governo federal promulgou a Lei nº 11.114(16 de maio de 2005), promovendo a obrigatoriedade da matrícula das crianças de seis anos de idade no Ensino Fundamental, mas não assentou o tema na sociedade, alimentando,assim, a expectativa de antecipação da 1ª série.
Entretanto, o objetivo da ampliação, anunciado pelo órgão ministerial, é aumentar o número de anos de ensino obrigatório para assegurar às crianças um tempo mais longo de convívio escolar, assim como maiores oportunidades de aprender, o que não significa antecipar a metodologia de alfabetização aplicada atualmente às crianças de sete anos.
Noticiada a novidade no início de 2006, muitas famílias buscaram o serviço público, requerendo vagas então inexistentes nos sistemas de ensino. A procura expressa a interpretação errônea da antecipação da escolaridade obrigatória. A demonstração é de que as famílias crêem que antecipação capitalizará em favor da formação necessária ao ingresso no mundo do trabalho, o que nem sempre poderá ser uma verdade. No campo da pedagogia discute-se amplamente a importância da primeira infância para o desenvolvimento do homem.
As pesquisas em matéria de aprendizagem infantil apontam que a fase lúdica, que implica a imaginação e o brincar, é o alicerce da aprendizagem da linguagem escrita. A concomitância desses processos deve ocorrer sem que a área lúdica caia em desprestígio,razão pela qual há a exigência da flexibilidade dos espaços e tempos.
Observado que o real teor da matéria da ampliação do Ensino Fundamental não consiste na antecipação da 1ª série para as crianças de seis anos, mas, sim, da transposição do trabalho pedagógico da pré-escola para o Ensino Fundamental, é recomendável que os pais analisem a situação da escola pública a que se dirigem para pleitear uma vaga para sua criança, porque nem todas se encontram em condições de atender adequadamente a dimensão lúdica do desenvolvimento infantil.
Antecipar a escolaridade de forma inconseqüente, ao invés de contribuir para ampliação das oportunidades de aprender poderá, sim, agravar o problema do fracasso escolar.
Por: Arivane Augusta Chiarelotto