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Abandono emocional e social


Todos queremos que ninguém desista de nós, sejamos jovens ou velhos. Mas muitos de nós desistimos dos outros com muita facilidade, principalmente das crianças de temperamento difícil, agressivas, agitadas ou violentas. É que elas dão trabalho e muitas vezes o que não queremos mesmo é ter trabalho.

Na qualidade de educadores, pais ou professores, temos inúmeros exemplos desse tipo de atitude que se resume numa única palavra: abandono.

De acordo com um trabalho pioneiro da professora Maria Abigail de Souza, do Instituto de Psicologia da USP, realizado com 14 meninos violentos, entre nove e 11 anos, todos vítimas de abandono emocional e social, mostrou que estas crianças se acalmam ao receberem atenção de adultos próximos.

Atenção e afeto são considerados técnicas de tratamento de crianças agressivas pelos psicanalistas americanos Fritz Redl e David Wineman. Afirmam também que os sintomas das crianças agressivas são mudanças drásticas de conduta, falta de controle dos impulsos e dificuldade de atenção nas aulas. Dizem ainda que a criança que sente ódio não consegue amar, simplesmente porque desconhece o que é o amor. Precisa aprender.

Todas estas pesquisas tornaram-se mais interessantes para mim quando li a seguinte afirmação: “IMPOR LIMITES É ENSINAR A CRIANÇA A SE CONTROLAR.”

Ora, e o pai, a mãe, a professora, o mestre, a vó, a diretora da escola, a coordenadora, que não possuem autocontrole para ensinar, como fazem?! Não fazem. Esta é a resposta. Deixam de contribuir com a criança que manifesta comportamentos difíceis, levando-a ao abandono emocional e social na maioria das vezes.

Certamente eu fui uma criança difícil. Só como exemplo, quebrei todas as louças de casamento da minha mãe porque vivia correndo, esbarrando em tudo e derrubando também. Uma dessas crianças fadadas ao rótulo de hiperativa com déficit de atenção. Que bom que na minha época ainda não tinha nada disso. Só sei que minha mãe e meu pai tiveram uma bruta paciência para me ajudar a crescer e amadurecer. Talvez seja por isso que meu trabalho sempre esteve voltado para auxiliar este perfil da sociedade.

Márcia Cezimbra escreveu em um de seus artigos que, “As relações humanas se constroem a partir do amor e do ódio. Se a mãe souber dar limites à criança com ternura e serenidade, a criança toma posse de seus sentimentos destrutivos e aprende a controlá-los.” Esta frase estende-se a todos os tipos de educadores, é claro.

Se for preciso, tratemos de nós mesmos, pois ninguém dá o que não tem para dar. Afinal, ensinar o educando a se controlar emocionalmente é necessário que nos esforcemos para dar o exemplo, principalmente se somos nós os educadores.

Que não façamos ao outro aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco. Ensinamento este do nosso grande mestre, amigo incondicional e eterno de nossas almas.

Denize do Nascimento Gonçalves

Orientadora Educacional e Psicopedagoga